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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O homem que virava fantasma



   Morreu o homem que "Virava" Fantasma dia 24 de Janeiro com 71 anos de idade

  Colegas de trabalho, escola e vizinhas ao ouvir minha narração sobre fatos transcorridos no município de Jacaraci Bahia  me pediam para escrever um livro com essas facetas. Dentre várias histórias sobre o homem que "virava fantasma" esta é inesquecível. Creio que ninguém esqueceu aquele dia macabro.

A intoxicação

Joaquim foi declarado louco na história que vou contar.
Certa noite, enquanto assistia o jornal na venda do açougueiro, Joaquim Carlos sugeriu a este que chamasse os amigos e amarrasse o engraçadinho que rondava sua casa durante a noite, assim descobririam o autor das confusões e restabelecia a tranquilidade.
No meio da noite, os fazendeiros e suas respectivas famílias estavam em suas camas descansando em merecidos sono para levantar as cinco horas na manhã seguinte. Foram acordados com vozes indistinta do outro lado da estrada. Assustadas, algumas crianças caíram da cama enquanto os donos da casa se preparavam para lutar contra um possível ladrão.
_ Não vou deixar nenhum ladrão de galinha roubar minha casa. O que há? Tem homem nessa casa para furar o peito desse cabra com chumbo.
A voz rouca do camarada que desesperadamente solicitava ajuda ecoava nos ouvidos dos trabalhadores rurais como se tivesse usando um alto falante.
Os vizinhos ainda grogues pelo sono, perguntaram que acontecimento seria aquele. Alguém manifestou incerto de que seria a alma do espírito gozador de um fazendeiro que morrera e não tivera um sepultamento adequando, onde os urubus comeram-lhe a carniça.
_ É Severino que voltou para se vingar da desfeita! Minha nossa senhora o que será de nós?
O alarmante subia e descia a estrada montado em seu cavalo com a missão de reunir todos os fazendeiros em sua casa. Alguns minutos depois, identificando o berreiro, puseram-se de pé para irem até a casa do gritante informar do que se passava. Pelo alarme, se prepararam para enfrentar coisas deste e de outro mundo.
Aos poucos, a casa do açougueiro foi enchendo de gente curiosas e apreensivas. Faltou comparecer ao evento apenas a família de João composta da esposa e três crianças pequenas.
Bang! Bang! Bang!
Foi um corre-corre no meio do mato atrás do ser insuportável, seria ela humana ou demoníaca.
Mais tiro de espingarda zunia sob o céu de lua cheia.
_ TRAGA A CORDA MANÉ DO CAFÉ!
Finalmente agarraram o vulto preto. Entretanto antes de anunciar vitória, a criatura escapou. Por toda a região ouviu-se vozes repetidas como num ritmo musical.
Pegue o homem! Pegue o homem! Pegue o homem!
Pegue! Segure! Amarre o homem!
Pegue o homem! Pegue o homem! Pegue o homem!
Pegue o homem agora!”
Bang! Bang! Bang!
Foi uma gritaria a noite toda. Os cachorros corriam e latiam incansavelmente. Algumas pessoas voltaram pra casa, entretanto ninguém consegui voltar à dormir naquela noite.
Finalmente o sujeito foi amarrado, arrastaram para a casa do proprietário que teve seus pés de mandiocas destruídos e o açougueiro gritava anunciando o perturbador da paz.
_ SABE QUEM É O FARSANTE MINHA GENTE? É JOAQUIM CARLOS MEU AMIGO DO PEITO! AQUELE QUE COMIA COMIGO NO MESMO PRATO!
Joaquim então revelou sua faceta, afirmava todos os seus feitos quando o açougueiro recitava as atitudes indecentes como se lesse uma lista de acusações num tribunal.
_ ...Sim. Sim... Fui eu... Eu confesso. Sim... Era eu.
O homem se preparou para o grande final, contudo o plano não deu certo. Conseguiu escapar das cordas uma vez, porém a lua apareceu iluminando a agitada noite e atrapalhando a fuga. Usara as artimanhas de encher os pulmões de ar enquanto estufava o peito para frente e depois soltar o mesmo e murchar a barriga. Apesar das senhoras presentes afirmarem que haviam fumaça e cheiro de enxofre.
Divertido com o medo do demônio que arrepiaram as mulheres, Joaquim começou pronunciar nomes feios, satânicos. Apavoradas, as senhoras se retiram com as crianças, apenas os homens vigiaram o autor das palhaçadas e o leva a delegacia.
_ É Quinca. Aquele gadinho seu vai acabar tudo. Você vai pagar por todas as noites que fiquei sem dormir.
A criatura cantou a noite toda, músicas que tinha letra as vezes engaçadas, as vezes sem sentido algum. A cela antes vazia, com esse sujeito cantarolando e conversando consigo mesmo pela madrugada afora, ficou mais agitada que uma delegacia com presos em fuga. Os moradores da cidade pequena que residiam perto da delegacia não conseguiram dormir e foram pedir soltura do desatinado.
_ Não ver que esse homem é louco delegado? Não pode ficar aqui!
Com todo mundo dizendo a mesma coisa, inclusive a família do demente, Joaquim foi encaminhado para um psiquiatra da capital. O homem adorou a atenção dos presentes preocupados com sua saúde e resolveu fazer suas brincadeiras favoritas: engrossar a voz e retorcer o corpo. Os evangélicos foram chamar os diligentes da igreja para expulsar o demônio que tomara o corpo do homem e logo a casa encheu de macumbeiros, pastores e curiosos para presenciar o teatro.
A mãe do Quinca, pela primeira vez na vida, entregou dinheiro para a família do imita-fantasmas para a viajem e gastos médicos.
_ Toma meu filho para você se tratar. Você vai ficar bom logo, está ouvindo meu filho?
Joaquim apresentou-se a clínica vestido uma calça feminina com as barras dobradas, uma no joelho, outra na canela e o psiquiatra diagnosticou insanidade e medicou alta dosagem de remédio de louco para o paciente. Esse remédio não podia misturar com álcool.
Já que não foi internado, Joaquim foi devolver o dinheiro para o pai e este conversando com a esposa não aceitou a devolução.
_ Fique com esse dinheiro para você meu filhinho, para comprar uma vitamina. Sua mulher não cuida bem de você é por isso que está magrinho desse jeito e com delírios.
O homem comprou uma vitamina contendo álcool e quando tomou três doses acima do recomendado e minutos depois ingeriu o remédio de doido que o psiquiatra receitou, intoxicou de tal maneira que a substância provocou uma coceira insuportável, sua pele ficou inchada, avermelhada e com caroços em toda a parte. Ao coçar as bolhas estouraram arrancando toda a epiderme do corpo.
Andando pela casa nas pontas dos pés para ir ao banheiro, fazia escândalo para demostrar sua dor. Ficou deitado por meses até formar uma nova pele.


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