Morreu o homem que "Virava" Fantasma dia 24 de Janeiro com 71 anos de idade
Colegas de trabalho, escola e vizinhas ao ouvir minha narração sobre fatos transcorridos no município de Jacaraci Bahia me pediam para escrever um livro com essas facetas. Dentre várias histórias sobre o homem que "virava fantasma" esta é inesquecível. Creio que ninguém esqueceu aquele dia macabro.
A intoxicação
Joaquim foi
declarado louco na história que vou contar.
Certa noite,
enquanto assistia o jornal na venda do açougueiro, Joaquim Carlos sugeriu a este que chamasse os amigos e amarrasse o
engraçadinho que rondava sua casa durante a noite, assim
descobririam o autor das confusões e restabelecia a
tranquilidade.
No meio da noite,
os fazendeiros e suas respectivas famílias estavam em suas
camas descansando em merecidos sono para levantar as cinco horas na
manhã seguinte. Foram acordados com vozes indistinta do outro
lado da estrada. Assustadas, algumas crianças caíram da
cama enquanto os donos da casa se preparavam para lutar contra um
possível ladrão.
_ Não vou
deixar nenhum ladrão de galinha roubar minha casa. O que há?
Tem homem nessa casa para furar o peito desse cabra com chumbo.
A voz rouca do
camarada que desesperadamente solicitava ajuda ecoava nos ouvidos dos
trabalhadores rurais como se tivesse usando um alto falante.
Os vizinhos ainda
grogues pelo sono, perguntaram que acontecimento seria aquele. Alguém
manifestou incerto de que seria a alma do espírito gozador de
um fazendeiro que morrera e não tivera um sepultamento
adequando, onde os urubus comeram-lhe a carniça.
_ É Severino
que voltou para se vingar da desfeita! Minha nossa senhora o que será
de nós?
O alarmante subia e
descia a estrada montado em seu cavalo com a missão de reunir
todos os fazendeiros em sua casa. Alguns minutos depois, identificando o berreiro, puseram-se de pé para irem até
a casa do gritante informar do que se passava. Pelo alarme, se
prepararam para enfrentar coisas deste e de outro mundo.
Aos poucos, a casa
do açougueiro foi enchendo de gente curiosas e apreensivas.
Faltou comparecer ao evento apenas a família de João
composta da esposa e três crianças pequenas.
Bang! Bang! Bang!
Foi um corre-corre
no meio do mato atrás do ser insuportável, seria ela humana ou demoníaca.
Mais tiro de
espingarda zunia sob o céu de lua cheia.
_ TRAGA A CORDA
MANÉ DO CAFÉ!
Finalmente
agarraram o vulto preto. Entretanto antes de anunciar vitória,
a criatura escapou. Por toda a região ouviu-se vozes repetidas
como num ritmo musical.
“Pegue o homem!
Pegue o homem! Pegue o homem!
Pegue! Segure!
Amarre o homem!
Pegue o homem! Pegue
o homem! Pegue o homem!
Pegue o homem
agora!”
Bang! Bang! Bang!
Foi uma gritaria a
noite toda. Os cachorros corriam e latiam incansavelmente. Algumas
pessoas voltaram pra casa, entretanto ninguém consegui voltar
à dormir naquela noite.
Finalmente o
sujeito foi amarrado, arrastaram para a casa do proprietário
que teve seus pés de mandiocas destruídos e o
açougueiro gritava anunciando o perturbador da paz.
_ SABE QUEM É
O FARSANTE MINHA GENTE? É JOAQUIM CARLOS MEU AMIGO
DO PEITO! AQUELE QUE COMIA COMIGO NO MESMO PRATO!
Joaquim então
revelou sua faceta, afirmava todos os seus feitos quando o açougueiro
recitava as atitudes indecentes como se lesse uma lista de acusações
num tribunal.
_ ...Sim. Sim...
Fui eu... Eu confesso. Sim... Era eu.
O homem se preparou
para o grande final, contudo o plano não deu certo. Conseguiu
escapar das cordas uma vez, porém a lua apareceu iluminando a
agitada noite e atrapalhando a fuga. Usara as artimanhas de encher os
pulmões de ar enquanto estufava o peito para frente e depois
soltar o mesmo e murchar a barriga. Apesar das senhoras presentes
afirmarem que haviam fumaça e cheiro de enxofre.
Divertido com o
medo do demônio que arrepiaram as mulheres, Joaquim começou
pronunciar nomes feios, satânicos. Apavoradas, as senhoras se
retiram com as crianças, apenas os homens vigiaram o autor das
palhaçadas e o leva a delegacia.
_ É Quinca.
Aquele gadinho seu vai acabar tudo. Você vai pagar por todas as
noites que fiquei sem dormir.
A criatura cantou a
noite toda, músicas que tinha letra as vezes engaçadas,
as vezes sem sentido algum. A cela antes vazia, com esse sujeito
cantarolando e conversando consigo mesmo pela madrugada afora, ficou
mais agitada que uma delegacia com presos em fuga. Os moradores da
cidade pequena que residiam perto da delegacia não conseguiram
dormir e foram pedir soltura do desatinado.
_ Não ver
que esse homem é louco delegado? Não pode ficar aqui!
Com todo mundo
dizendo a mesma coisa, inclusive a família do demente, Joaquim foi encaminhado para um psiquiatra da capital. O homem adorou a
atenção dos presentes preocupados com sua saúde
e resolveu fazer suas brincadeiras favoritas: engrossar a voz e
retorcer o corpo. Os evangélicos foram chamar os diligentes
da igreja para expulsar o demônio que tomara o corpo do homem e
logo a casa encheu de macumbeiros, pastores e curiosos para
presenciar o teatro.
A mãe do
Quinca, pela primeira vez na vida, entregou dinheiro para a
família do imita-fantasmas para a viajem e gastos médicos.
_ Toma meu filho
para você se tratar. Você vai ficar bom logo, está
ouvindo meu filho?
Joaquim apresentou-se a clínica vestido uma calça feminina com
as barras dobradas, uma no joelho, outra na canela e o psiquiatra
diagnosticou insanidade e medicou alta dosagem de remédio de
louco para o paciente. Esse remédio não podia misturar
com álcool.
Já que não
foi internado, Joaquim foi devolver o dinheiro para o pai e este
conversando com a esposa não aceitou a devolução.
_ Fique com esse
dinheiro para você meu filhinho, para comprar uma vitamina. Sua
mulher não cuida bem de você é por isso que está
magrinho desse jeito e com delírios.
O homem comprou uma
vitamina contendo álcool e quando tomou três doses acima
do recomendado e minutos depois ingeriu o remédio de doido que
o psiquiatra receitou, intoxicou de tal maneira que a substância
provocou uma coceira insuportável, sua pele ficou inchada,
avermelhada e com caroços em toda a parte. Ao coçar as
bolhas estouraram arrancando toda a epiderme do corpo.
Andando pela casa
nas pontas dos pés para ir ao banheiro, fazia escândalo para demostrar sua dor. Ficou deitado por meses até formar uma nova pele.
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