Dia 20 de Outubro é o dia do poeta. Antes essa data era celebrada com saraus nas escolas embora os poetas que viviam solitários estivesse inspirado para escrever e não podia comparecer para comemoração.
Hoje os sarau literários acontecem em vários lugares onde poetas e apreciadores de poesias se reúnem para aplaudir e serem aplaudidos, declamando criativas poesias para todos presentes.
Hoje os sarau literários acontecem em vários lugares onde poetas e apreciadores de poesias se reúnem para aplaudir e serem aplaudidos, declamando criativas poesias para todos presentes.
Nesse dia do poeta, apresento o meu conto onde protagoniza o poeta Daniel:
Poeta romancista
Daniel era poeta, na verdade poeta e romancista. As vezes se sentia um fracassado quando
sua família lhe reprimia dizendo para procurar outro hobby.
_ Trancado dentro de casa nas
horas vagas lendo ou escrevendo, sem beber, jogar, fumar ou assistir
futebol com os amigos, não é vida de homem jovem.
Todos diziam que ele era um
ermitão e devia aproveitar cada segundo fora do expediente na
balada. Diziam também que ele não era normal sem passar
cada hora com uma mulher diferente. Debochavam dele.
_ Lá vem o romântico
apaixonado! Esse cara não existe. O último ser humano
que ainda abre a porta do carro para a dama, dá lhe flores
deixando as mulheres lhe fazer gato e sapato.
Daniel gostava de ser assim.
Quando apaixonava, apaixonava pra valer. Se entregava ao amor e
ficava escravo dele. Depois de tantas desilusões amorosas
permitiu que os amigos lhe influenciasse um pouco. Porém não
achava muito divertido baile funk, não queria uma namorada que
dançasse com toda aquela sensualidade muito menos conseguia
aceitar a ideia de dividir uma mulher com outro homem.
Ainda queria casar e ter filhos
com uma mulher que fosse fiel a ele e continuava escrevendo e
reescrevendo. Idealizava demais a mulher, por isso não
encontrava nenhuma capaz de lhe satisfazer por completo. Perfeitas
mesmo só as que ele inventava. Bonitas, fieis, educadas, boa
mãe, boa mulher e as vezes moderna com desempenho ao qual as
mulheres de hoje tentam ter.
Tinha consciência que suas
obras eram boas. Até mesmo seus amigos que o criticavam,
quando lia o que ele escrevia ficavam admirados com a originalidade e
criatividade e se retratavam.
_ Meu amigo, você é
um cara culto. Suas histórias e seus poemas são
realmente muito bons. Cara você precisa publicar isso.
Publicar, é o sonho de
todos escritores, porém se você não é da
mídia e ainda por cima é pobre de uma periferia, os
obstáculos são ainda maiores.
Daniel tentava encontrar uma
editora para publicar seus livros, mas fracassava. A família
lhe deixava cada vez mais desanimado. Só levantava o astral
quando apanhava uma caneta para escrever uma nova história.
Tinha a literatura como essência da vida.
Ler lhe fazia pensar, trazia
lembranças, lhe inspirava. Era tímido, sentia vergonha
de ir a biblioteca todo dia antes do trabalho, então preferia
trazer os livros para ler em casa e comprava os que considerava um
pecado não ter em sua coleção.
Nada lhe dava mais prazer na
vida. Mulheres, nem sempre era companhia agradável. As vezes
preferia ficar sozinho lendo. E quando estava inspirado, não
gostava que nenhum amigo lhe distraísse nem lhe interrompesse
de nenhuma forma. As vezes fingia que não estava em casa só
para escrever sossegado. E quando seus colegas queriam saber onde
estava, inventava uma boa desculpa. Afinal ele era escritor, sabia
lidar com as palavras e criar uma história convincente.
Gostava de comédia, usava
muito o sarcasmo e drama nas tramas. Misturava todos os temperos.
Assim cada livro que escrevia apesar de ser romance, eram diferentes.
Em um, o personagem principal andava desesperadamente querendo se
apaixonar para encontrar o sentido de sua vida. Noutro, o personagem
não queria se apaixonar de maneira nenhuma para não
perder sua individualidade. Havia o personagem tolo demais que já
tinha o coração partido tantas vezes e resolvera
fechá-lo para que ninguém entrasse e provocasse mais
estragos e de repente surge o verdadeiro amor e este veste uma
armadura para se proteger e acaba se rendendo ao amor que insiste
alegrar tal alma.
O autor ficou depressivo, não
se alimentava e por isso seu sangue começou a ter baixa
imunidade. Sua família estava em guerra por causa da herança
dos pais que se foram. Não aguentava a pressão do
emprego novo e o stress estava lhe matando aos poucos. Sua ansiedade
crônica não lhe deixava dormir, eram tantos os problemas
que lhe tirava o sono. Começou beber muito café para
ficar acordado no serviço e expulsar o desânimo que
apoderou do seu corpo.
Sua gastrite lhe corroía
o estômago, porém não havia vontade nenhuma de se
alimentar. Sabia que estava se maltratando, porém como não
tinha coragem de suicidar, permitia que a morte se aproximasse aos
poucos.
Seu único sonho era ser
imortal através da literatura. Oh! Como queria publicar um
livro. A esperança de ver seu livro numa livraria lhe trazia
de volta a vontade de viver. Contudo sua depreensão era maior
do que gostaria que fosse. Estava vivo de fato, mas não
conseguia mostrar ao mundo sua arte. Vivia sonhando com o dia em que
estaria assinando um contrato com uma editora, porém esse dia
não chegava.
Daniel ia assim: um dia melhor,
outro pior. Até que viu numa revista, os poemas e contos de
vencedores de um concurso literário. Foi até um tele
centro e pesquisou a respeito.
Ele era bom, sabia disso, mas
para ganhar não bastava ser bom, tinha que ser o melhor e há
muitos escritores maravilhosos precisando de uma oportunidade e era
os juris quem tinha o papel de determinar o vencedor.
Se inscreveu apesar das
incertezas e algum tempo depois, recebeu seu primeiro prêmio
como poeta. Depois disso conseguiu publicar outro livro e este foi o
romance mais vendido da lista dos mais vendidos. O lançamento
do livro de poesia também foi fantástico. Suas irmãs
choravam de emoção.
_ Meu irmão, você
merecia está aqui. Estou orgulhosa...
Logo depois de tornar público
o seu talento de poeta e romancista, Daniel percebe que sua vida está terminando, escreve mais uma poesia de despedia e morre.
( Conto de Jussara Carvalho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que acha da postagem que acabou de ler?